Primeiros resultados do projeto ADAFARM: troca de informação sobre adaptação às mudanças climáticas de pequenos agricultores em Moçambique
O projeto ADAFARM intitula-se «Estratégias de Adaptação às Mudanças Climáticas Sustentáveis para Pequenos Agricultores em Moçambique». Obtivemos os primeiros resultados e conclusões do projeto, que tem como foco o acesso e a troca de informação sobre mudanças climáticas.
Apresentamos a seguir as principais conclusões, que serão publicadas numa revista científica e divulgadas através de reuniões e de resumos partilhados entre especialistas da Europa e África.
Moçambique enfrenta grandes desafios decorrentes das mudanças climáticas, como se verificou pelo impacto agradado dos ciclones e secas que se abateram nos últimos anos. Para que as famílias de agricultores africanas se possam adaptar às mudanças climáticas e melhorar a sua condição de vida, são necessárias melhorias importantes, tais como, facilitar o acesso a terras férteis e de qualidade; melhorar o acesso ao mercado; melhorar o seu acesso a recursos como créditos, trabalho e tecnologia; promover o conhecimento de técnicas agrícolas que beneficiem a qualidade dos solos e se adaptem às mudanças climáticas; resumindo: melhorar a troca de informação.
Esta última necessidade, o acesso e troca de informação útil e de qualidade, pode servir tanto para melhorar as estratégias de adaptação às mudanças climáticas quanto para melhorar outros aspectos das suas vidas, como a educação, higiene, saúde, nutrição, procura de emprego, etc. Estas famílias de agricultores precisam de informação relacionada com as mudanças climáticas que estão a ocorrer na sua região, nomeadamente, as consequências mais prováveis para a agricultura, bem como informação sobre novas opções de adaptação a estas mudanças.
Este projecto teve como objectivo avaliar a actual troca de informação entre agricultores e instituições em Moçambique e como melhorar esse intercâmbio no futuro. Para isso, foram realizados inquéritos, entrevistas e reuniões a cem agricultores em quatro distritos do país, e nove entrevistas com diferentes instituições que trabalham para o desenvolvimento dos agricultores. O objetivo é saber que fontes de informação utilizam actualmente para desenvolver a sua actividade agrícola, e como o acesso à informação pode ser melhorado no futuro. Agricultores e instituições foram também avaliados pelas diferenças de género e pela sua situação geográfica ao longo do país.
Abaixo, apresentamos as seis conclusões mais importantes a que o estudo chegou. Salientam-se as diferenças encontradas no acesso à informação entre os agricultores de acordo com 1) o seu género; 2) diferenças de percepção entre agricultores e instituições; 3) as diferentes áreas geográficas estudadas em função da proximidade à capital do país (Maputo); 4) as estratégias de adaptação às mudanças climáticas identificadas com maior potencial; e 5) as principais barreiras existentes que os agricultores enfrentam para trocar informação. Finalmente, incluímos algumas recomendações finais para melhorar a troca de informação no futuro.
1. Diferenças de género
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Está comprovado que as mulheres, para além de terem menos acesso à educação e maiores níveis de analfabetismo, têm menos acesso às tecnologias de informação, como telemóveis, smartphones e rádios.
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E que as mulheres dão maior importância e gravidade ao problema do analfabetismo do que os homens (65% das mulheres acreditam que o analfabetismo é um problema, contra 38% dos homens).
2. Diferenças entre agricultores e instituições
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Mais do que os agricultores (especialmente os homens), as instituições consideram que o analfabetismo é uma barreira ao acesso de nova informação.
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As instituições acreditam que a rádio é um instrumento mais útil do que aquilo considerado pelos agricultores. A diferença deve-se ao facto de que o serviço de rádio comunitária (rádios locais) não funcionar bem em muitas partes do país.
3. Diferenças entre os distritos perto de Maputo e aqueles mais distantes
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Foram estudados dois distritos muito distantes de Maputo e dois distritos localizados perto da capital. As comunidades perto de Maputo têm maior acesso a eletricidade do que as que estão longe. Em parte, mas não apenas por isso, essas comunidades têm melhor acesso à rádio e à televisão. Para além disso, possuem também um maior número de telemóveis e smartphones: perto de Maputo, 85% dos agricultores possuem telemóvel, contra 42% dos que vivem longe da capital; e 15% têm smartphones em comparação com 4% daqueles que estão longe de Maputo.
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Perante catástrofes climáticas, as populações mais remotas são mais vulneráveis: elas têm menos resiliência e a sua produção agrícola é menor.
4. Estratégias de adaptação às alterações climáticas e à falta de informação
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As estratégias de adaptação às mudanças climáticas consideradas mais necessárias são a introdução ao regadio e o uso de sementes de alta qualidade adaptadas às mudanças climáticas. Estas foram as opções mais votadas tanto pelos agricultores como pelas instituições entrevistadas (obtiveram as maiores pontuações numa escala de 1 a 5: 3,5).
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Uma das estratégias de maior impacto é a construção de barragens que, na opinião dos participantes, melhoraria significativamente a produção agrícola, especialmente no sul do país, que sofre um longo período de seca de mais de cinco anos.
5. Barreiras identificadas na troca de informação
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As barreiras mais graves identificadas pelos participantes são (numa escala de 0 a 5) o custo das tecnologias de informação (internet, telemóveis, rádio e TV) (2,9), a falta de electricidade (2,8) e o analfabetismo (a primeira barreira identificada pelas instituições e mulheres). Outras das barreiras assinaladas são a falta de agentes de extensão agrícola e a falta de centros de formação.
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A partir dos inquéritos, verificou-se que aqueles participantes que carecem de algum elemento, o valorizam mais intensamente do que os que não carecem. Por exemplo, as mulheres apresentam taxas de analfabetismo mais altas e consideram, mais do que os homens, que o analfabetismo é uma barreira para obter melhor informação. Da mesma forma, as comunidades distantes de Maputo, que não têm electricidade, apontam a falta de electricidade como um problema mais grave do que as comunidades que têm acesso a ela.
Recomendações para melhorar a troca de informação:
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A rádio é considerada muito útil, mas não funciona bem nos distritos mais longe de Maputo. Neles, este sistema não é valorizado de forma tão positiva. É também, mais valorizado pelas instituições do que pelos próprios agricultores. Portanto, melhorar o sinal de rádio pode ser uma forma económica e que abrange muita gente, ou seja, com um investimento relativamente pequeno é possível alcançar uma maior parte da população. Com a rádio podem-se desenvolver programas agrícolas informativos sobre as causas das mudanças climáticas, as suas consequências, dar a previsão do tempo, entre outros temas.
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Ossmartphones têm um grande potencial para melhorar a troca de informação, pois facilitam o acesso a imagens, vídeos, etc. No entanto, é muito pouco valorizado tanto pelos agricultores como pelas instituições. O principal problema para aumentar o seu uso é o custo e o acesso à electricidade, mas pode ser mais atraente no futuro para as gerações mais jovens, enquanto a rádio pode ser mais interessante para as restantes gerações. Ou seja, é sempre positivo apostar em medidas diversificadas.
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As igrejas são o recurso menos valorizado pelas instituições, mas são valorizadas positivamente pelos agricultores. Elas podem ter um alto potencial para serem usadas na distribuição de informação agrícola.
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A formação de agricultores é uma das propostas mais valorizadas por ambos agricultores e instituições. Pode ser desenvolvida de várias formas: através da criação de centros de formação (para jovens e/ou adultos) nas comunidades ou centros distritais; formar alguns representantes da comunidade para regressarem e ajudarem os restantes agricultores; e através de reuniões ou pequenas formações com representantes das aldeias e cidades.
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Os materiais escritos são o meio menos valorizado para a transmissão de informação actualmente em Moçambique, tanto por agricultores como por instituições.
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A fonte de informação considerada como mais útil são os agentes de extensão agrícola. A extensão agrícola é um processo educacional informal orientado à população rural, que dá assessoria e informação para ajudar a resolver os seus problemas. Facilita o intercâmbio directo entre produtores e técnicos agrícolas para diagnosticar problemas, aproveitar o conhecimento existente, trocar experiências, divulgar melhorias comprovadas e até desenvolver projectos comuns. Por este motivo, parece fundamental que o governo de Moçambique trabalhe na melhoria deste recurso como forma de ajudar na adaptação às mudanças climáticas e no desenvolvimento das famílias de agricultores. Abaixo estão algumas das recomendações que os participantes propuseram para melhorar o serviço de extensão agrícola:
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Garantir que os extensionistas trabalhem nas mesmas comunidades (cidades) a longo prazo, ou seja, durante um elevado número de anos.
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Juntar os extensionistas com instituições e projetos de investigação para que a investigação se centre nos problemas mais urgentes e para chegue à população as soluções aplicadas à realidade local.
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Melhorar a formação dos extensionistas, tanto ao nível dos seus conhecimentos agronómicos, como da comunicação com os agricultores e outros aspectos do desenvolvimento comunitário.
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Aumentar o uso do conhecimento local: fazer com que os extensionistas valorizem as práticas locais de sucesso.
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Que o seu trabalho não se foque exclusivamente na agricultura: que possam apoiar a população em todas as suas necessidades (por exemplo, problemas relacionados com o acesso à água, saúde).
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Que ajudem os agricultores não só nas práticas agrícolas, mas também em outras actividades necessárias à agricultura, como a auto-organização, obtenção ou compra de insumos, venda da produção, entre outros.
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Aumentar o número de mulheres extensionistas.
Por fim, foi também identificada a necessidade de ampliar a visão do mundo dos agricultores, para que tenham consciência de que os seus problemas são partilhados com muitos outros agricultores, e para estimular a procura de soluções para os seus problemas. Da mesma forma, políticas públicas de apoio à produção agrícola, assim como ajudas à compra da produção, são também consideradas fundamentais para o desenvolvimento futuro dos agricultores moçambicanos.
Esperamos que estas conclusões (diferenças de género, importância dos extensionistas, ampliação do foco de trabalho dos extensionistas, trabalho de longo prazo, etc.) sirvam para reflectir e debater sobre as diferentes medidas a serem adoptadas no futuro e que finalmente sirvam para melhorar a qualidade de vida dos agricultores e dos ecossistemas em que vivem. A equipe do projeto está totalmente disponível para qualquer esclarecimento adicional e para realizar futuras colaborações.